Rosely Sales
Berros da alma!
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Textos

Adios Nonino

Tudo começa após O final de semana... Com O maiúsculo, mesmo... Surreal... Aquele que eu jamais imaginara poder ter com aqueles a quem doloridamente, muitas vezes, preciso chamar de família... A família que eu nunca tive e que ao mesmo tempo, ainda tenho... Naquele final de semana fui feliz... Talvez a única vez em meus 42 anos...

 

O Luciani começa assoprando...! Expulsando...! Parindo...! Vomitando meus próprios sentimentos através de sua gaita... Foi quase uma bulimia...!!! Foram os sentimentos saindo pela garganta...!!! A dele e a minha...!!!

 

...Ano de 2006... Meu Deus, que Natal amaldiçoado...!!! O pastor dizia:

 

—Fala agora...!!! Fala pra eles tudo o que você sente...!!! Despeja tudo AGORA!!!— Eu só tive forças pra levantar chorando muito e abraçá-los... O velho demônio do meu pai só sabia gritar que era um milagre...! Mas minha mãe... Meu Deus...!! O que era aquilo que eu via diante de mim...?!!:

 

—Lily!!! Lily!!! Lily!!! Lily, eu te amo!!! Eu te amo!!! Eu te amo, Lily!!!...— Eu a abraçava e ela me espremia e contraía com tanta força minhas costelas, o meu corpo junto ao seu, que pensei que fosse me quebrar inteira...!!! E eu pensava dentro de mim...: “O que é isso, meu Deus...?!!! O que é isso...?!!!”

 

Voltei prá São Paulo no carro, com o pastor amigo da família... A viagem da praia até minha casa... O abdômen contraído com uma pressão violenta... Era a droga da depressão... Era a droga da ansiedade... Eram as drogas dos traumas, sofrimentos, dores, ódios e os sonhos todos enterrados... Os castelos desmoronados... Os medos e loucuras... A infelicidade toda... Cheguei em casa, corri pro banheiro... Aquilo tudo saiu vomitado pela garganta, vaso sanitário abaixo... Era o Luciani assoprando e vomitando aquela gaita...

 

...Onze anos depois...: Sorrisos, abraços, risos, piadas, fotos... Cheguei na terapeuta como se estivesse alta...:

 

—Eu só tenho medo que a sua depressão seja proporcional a essa felicidade toda...

 

Pedi à outra, à psiquiatra, que me desse duas semanas... Iniciei no dia seguinte o projeto... Eu juntaria todas as poesias do site e arremataria com uma poesia narrativa sobre aquele final de semana... E faria um vídeo com a última... Finalizava em duas semanas...

 

Depressão parece piada ao ouvir o Luciani... Ela sumiu... Eu escrevia tão veloz quanto o The Flash... Aquilo era heroína na veia... Comecei à 18h, virei a noite e fui parar às duas e meia da manhã, com tendinite... Mas isso não era NADA perto da grandiosidade do projeto... Não era NADA perto da criatividade que aflorava... Que vinha como um turbilhão... Eu não podia cortar as suas asas...: “Não!! Não!! Não!! Eu vou terminar...! Eu vou conseguir...! São duas semanas...! Só duas semanas...!”

 

O que era para os outros, também foi para mim um estudo de mim mesma... Aquela era eu...? Aquelas poesias eram eu mesma...? Aquela, realmente, era eu...? Fui descobrindo-me, encontrando-me, surpreendendo-me comigo mesma... Com essa história que eu insistia em fazer-se conhecida... E que acabava cada vez mais comigo... Que mexia com minhas entranhas... Que talvez me destruía... Que me levava para onde não sei... Mas que era eu... Apenas eu...

 

No final da semana... Cansada... Já havia vasculhado, revirado, todas as poesias... De frente pra trás, de trás pra frente... Terminara a introdução... Mas... Não era aquilo...!!! Não...! Não era aquilo...! “Vou ter que começar tudo de novo... Tudo de novo...!!! Droga!!!”

 

Saí... Fui de bike até a construção da minha casa... Ficar lá sentada, no concreto, sozinha... Longe de tudo e de todos... Mas nem isso foi o que eu esperava... Mais problemas... E voltei... Voltei fuzilando O mundo! TODO mundo!

 

Cheguei... Sentei na cama... E chorei... Meu Deus, como eu chorei...!!! Bateu aquela fome... E eu lembrei do jiló... Meu Deus!!! Aquele jiló... O jiló da minha mãe...! Que eu havia comido naquele final de semana...

 

O choro veio como uma bomba!!! E explodiu de uma maneira...! Mas de uma maneira que eu nunca havia chorado antes...! E eu chorava berrando...!! Eu simplesmente berrava...!!!! Gritava!!! Gritava!!!! Gritava!!! Gritava!!!

 

“Eu acho que a amo... Droga!!!! Eu acho que a amo..!!!! Merda!!!! Que sentimento horrível é esse...??!!! É como se a estivesse perdendo... Meu Deus...!!! Que dor...!!!”

 

Eu não conhecia a letra daquela música... Mas Adios, era Adios...!!!! Adios, era Adeus...!!! Adios, Nonino!!! “Luciani, como você consegue isso...?!!! Meu Deus, que poder é esse...??!!! O que você está fazendo comigo nesse momento...??!!! Agora... À meia noite...?!!!”

 

No final da segunda semana, fui atropelada por uma moto... E o projeto...?!!! O projeto durou um ano... De outono a outono...

 

 

...E neste ano... Neste outono... Terminei o projeto... E enviei o pacote para o meu cunhado:

 

—Você deu o livro pra ela...? Viram o vídeo da poesia...?— Nenhuma resposta...

 

Mais algumas semanas depois...:

 

—Você deu o livro pra ela...? Vocês viram o vídeo...?— Nenhuma resposta... E não sei se terei resposta... Não sei se jogaram fora...

 

 

Mas a dor... A dor vai e vem... Vem e vai... E nunca passa... E essa era a tentativa de acabar com tudo... De matar essa dor...

 

 

Adios, Nonino é essa música que me mata como essa dor... Como essa dor que parece que nasceu comigo e que não vai embora... Gostaria de dar adeus a VOCÊ, como o título da música... Gostaria de dar ADIOS... Mas você está aqui... Você está aqui... Você ainda está aqui...!!! Você faz parte de mim...!!!

 

 

 

Artur Nogueira, SP - 2018

Rosely Sales
Enviado por Rosely Sales em 28/12/2020
Alterado em 16/02/2025
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